INFORMAÇÃO SUMÁRIA
Padroeiro: S. Martinho
Habitantes: 978 habitantes (I.N.E.2011) e 1.525 eleitores em 05-06-2011.
Actividades económicas: Agricultura, pecuária e construção civil.
Festas e romarias: Festas de Agosto (12 a 15 de Agosto), S. Martinho /11 de Novembro), Senhora das Dores, Senhora da Guia, Senhora da Conceição, Senhora da Paz, Senhora da Fátima, Senhora do Livramento, Santa Filomena, Santo António, Santa Luzia, S. José, S. Sebastião e S. Miguel.
Património cultural e edificado: Casa da Câmara, Casa do Enes, pelourinho e antas da serra de Soajo, conjunto de espigueiros.
Outros locais de interesse turístico: Parque Nacional da Peneda do Gerês, lugares de Mezio e Eiró e barragem do Lindoso.
Gastronomia: Cabrito à moda do Soajo, arroz de cabidela, arroz de sarrabulho, cozido à portuguesa, costeleta grelhada e queijo branda de cachena.
Artesanato: Trabalhos em madeira e ferramentas tradicionais.
Feiras: No primeiro domingo de cada mês, entre Janeiro e Setembro e, no primeiro dia de cada mês entre Outubro e Dezembro.
Colectividades: Casa do Povo de Soajo, Rancho Folclórico das Camponesas da Vila de Soajo, ADERE — Soajo, Associação para o Desenvolvimento da Região do Soajo, Associação Juvenil de Paradela, Associação Desportiva e Cultural de Soajo, Associação Cultural Soajeira, Associação Amigos Vilarinho das Ouartas, Associação Cultural e Recreativa de Adrão, Associação Desportiva e Cultural de Soajo, Associação Sociocultural dos Moradores de Cunhas, Associação Cultural de Vilar de Suente, Clube Caça e Pesca do Soajo.
ASPECTOS GEOGRÁFICOS
A Freguesia de Soajo pertence ao Concelho de Arcos de Valdevez, Distrito de Viana do Castelo, de cuja sede dista cerca de 20 km. Situando-se em plena área montanhosa do Alto Minho, constitui uma das principais portas de entrada do País pela fronteira orensana da Galiza, fronteira esta que é limitada pelo rio o Castro Laboreiro.
Ocupando o seu território uma área de 59,1 km2, confina a Norte com as Freguesias de Gavieira, Cabreiro (Arcos de Valdevez) e Castro Laboreiro (Melgaço); a Este com Espanha; a Sul com as Freguesias de Lindoso, Britelo (Ponte da Barca) e Ermelo (Arcos de Valdevez); a Oeste com as Freguesias de Gondoriz, Cabana Maior e Vale (Arcos de Valdevez). Refira-se ainda a relativa proximidade de outros centros urbanos, nomeadamente Viana do Castelo, Braga e Porto que distam, respectivamente, 40 km, 35 km e 90 km de Arcos de Valdevez.
Soajo é uma Freguesia que, de acordo com a tipologia de áreas urbanas, foi classificada como Área Predominantemente Rural. É composta por muitos lugares que podem ser agrupados de acordo com o distanciamento ao “núcleo” central. Assim, próximos deste “núcleo”, encontram-se os lugares de Bairros, Carreiras, Costa Velha, Cruzeiros, Eiró, Fraga da Mó, Lage, Raposeira , Rio Bom, Teso, Torre, Coucieiro, Fontelas, Veiga e Aqui Del Rei; por sua vez, afastados do “núcleo” central estão Adrão, Cunhas, Paradela, Várzea, Vilar de Suente, Vilarinho das Quartas e Campo Grande.
Na sequência do seu enquadramento geográfico, a área da Freguesia apresenta declives acentuados existindo, no entanto, pequenas manchas de baixo declive onde os solos existentes têm maior aptidão agrícola. Possui uma rede hidrológica intensa, caracterizada pela existência de várias linhas de água que constituem afluentes do rio Lima. Esta característica resulta da elevada pluviosidade que se regista na zona e da própria topografia local.
RESENHA HISTÓRICA
O povoamento da região de Soajo perde-se no tempo. O Santuário Rupestre do Gião — Serra do Soajo — e as inúmeras Antas e Mamoas são alguns dos inúmeros marcos documentais. O primeiro documento escrito data de 950 e refere a partilha de bens entre a Condessa Mumadona Dias e os seus descendentes.
A Municipalidade de Soajo é mencionada nas Inquirições Gerais de 1258, ordenadas por D. Afonso III. Também o Rol dos Besteiros do Couto, datado do reinado de D. Afonso III ou D. Dinis, faz referência ao Julgado de Soajo. Ainda em 1283, na Chancelaria de D. Dinis (1279-1325) na Torre do Tombo, encontra-se o documento respeitante a solução de em pleito ocorrido no Município de Soajo.
Em 1388, no início do reinado de D. João I (1383-1433), o abade da Freguesia de Ermelo, então Município de Soajo, dirige-se ao rei afirmando: «O Mosteiro de Ermelo foi mandado construir por D. Teresa, no Julgado de Soajo. Em 1401, D. João I interditou os nobres, em obediência do que vinha de antigamente, de viverem na terra e no Julgado de Soajo, a pedido dos vereadores da Câmara Municipal de Soajo.
Em 1456, o Concelho de Soajo toma posição sobre matéria referente a tributações de bens comercializados na feira de Valdevez.
De acordo com os arquivos históricos da aldeia do Soajo, a sua fundação remonta ao século I, mas só em Outubro de 1514 obteve Foral de D. Manuel I (1495-1521).Nessa altura, o Concelho de Soajo abrangia as Freguesias de Ermelo e Gavieira.
Em 1657, durante as guerras da Restauração, os povos do Concelho de Soajo tomaram parte activa, junto ao Castelo de Lindoso, batendo-se heroicamente pela Restauração da segunda independência de Portugal, conforme documento publicado em Subsídios para a História da Terra da Nóbrega e Concelho de Ponte da Barca, da autoria do Professor Avelino de Jesus Costa.
O conjunto orográfico na região nordeste, entre os rios Minho e Lima, foi particularmente acarinhado pelos primeiros reis de Portugal, pois nele foi instituída uma das primeiras montarias de Portugal. Na verdade, a montaria real foi criada sobre esta Serra e nela se exerceu jurisdição até ao ano de 1831, pelo Monteiro-Mor, coadjuvado pelos Monteiros-Menores. Assim, durante muitos séculos, esta área foi protegida nas suas vertentes de fauna e flora, pela gestão e fiscalização superior do representante régio que era o Monteiro-Mor. Até 1861, data da publicação da Carta Entre Douro e Minho do General Nicolau Traut, este espaço montanhoso foi exclusivamente denominado por Serra de Soajo. A partir desta data, erroneamente, esta área geográfica de montanha também passou a ser designada por serra da Peneda. Tal verificou-se devido ao facto de na área do Concelho de Soajo constar na já mencionada Carta a toponímia “Serra da Peneda”, substituindo Serra d’ Soajo. Este procedimento criou tal confusão que, ainda hoje, se mantém.
Em virtude da principal actividade dos habitantes da região ser a caça, estes eram designados por “monteiros”. As principais espécies capturadas eram ursos, javalis, cabras-bravas, lobos e raposas.
Segundo Pinho Leal, esta Freguesia «teve grandes privilégios, entre eles o de não darem alojamento às tropas, nem soldados, em tempo de guerra, e só iam a ela no seu couto, ou quando fosse o rei em pessoa». De facto, pelos documentos existentes na Torre do Tombo, constata-se que os Monteiros do Soajo gozavam de privilégios ímpares relativamente às demais Coutadas e Montarias Reais, em virtude da sua situação estratégica e das suas belezas naturais.
No princípio do século XIV, o rei D. Dinis esteve em Soajo, tendo aumentado os privilégios, designadamente que nenhum fidalgo se demorasse aqui «mais tempo do que o necessário para se esfriar um pão quente, posto ao ar, na ponta de uma lança». Por sua vez, D. João 1 ordenou aos monteiros que aqui proibissem a residência de cavaleiros.
Documentos datados do início do século XVII referenciavam já Soajo como Vila, admitindo-se que essa categoria resulta da erecção do Pelourinho, segundo norma existente na chancelaria de D. Afonso V.
Na sequência da Reforma Liberal, a 17 de Fevereiro de 1852, Soajo viria a perder o direito a ser sede de Concelho. Mesmo assim, a Freguesia nunca foi esquecida e ainda hoje é muito divulgada e procurada. Inserindo-se numa região caracteristicamente rústica, as suas ruas pavimentadas com lajes de granito e casas construídas com blocos do mesmo inerte ainda constituem uma realidade e Soajo.
A vida em comunidade sempre foi muito importante nesta aldeia. Até há cerca de um século, Soajo tinha um juiz eleito pelo povo.
Juiz de Soajo
Lenda ou realidade, a história do juiz de Soajo, Ti Sarramalho, é por todos conhecida, sendo ele o símbolo da inteligência e justiça de todo o povo da Vila de Soajo.
O Juiz Sarramalho era um dos homens bons da terra, de passagem para a sua terra natal, deparou com um crime de morte de um indivíduo, sendo testemunha ocular.
O caso foi submetido a julgamento e face às provas testemunhais tinha de sentenciar. Proferiu então o seguinte veredicto: “Morra que não morra, dê-se-lhe um nó que não corra, ou degredado toda a vida e com cem anos para se preparar”.
É claro que esta decisão não foi entendida pela maioria das pessoas. A sentença subiu às instâncias superiores e por recurso. Foi então, chamado o Juiz de Soajo, para justificar e explicara sentença dada.
Cansado de tanto esperar de pé, pelos juízes do Tribunal da Relação, tirou a sua capa das costas e sentou-se nela, no chão.
Após ter justificado a sentença, retirou-se. Sendo chamado, quando descia as escadas, que se esquecera da capa. De maneira digna, respondeu com altivez: “O Juiz de Soajo, cadeira onde se sentou, nunca consigo a levou.”
Já no reinado de D. Afonso III se fazia referência à existência do julgado de Soajo, a avaliar pelas várias disposições legais, compiladas por especialistas, que afirmam a existência desse julgado nas reformas administrativas, no século de 1800.
No território de jurisdição do Julgado de Soajo exerceram as suas actividades vários juízes ordinários e não apenas o mais conhecido e sempre referenciado Ti Sarramalho.
Após a eliminação do Concelho de Soajo, foi também extinto o referido julgado em 31 de Dezembro de 1853.
Ainda, acerca da história da Freguesia de Soajo, no livro,” Inventário Colectivo dos Arquivos Paroquiais vol. II Norte Arquivos Nacionais/Torre do Tombo” pode ler-se na integra:« Datam de 950, “Suagio et Monimenta”, de 959 e 1059, “villa Soagio”, as primeiras referências a São Martinho do Soajo.
Em 1320, na lista das igrejas situadas no território de Entre Lima e Minho, do bispado do Tui, que o rei D. Dinis mandou organizar para determinação da taxa a pagar. São Martinho de Soajo foi taxada em 200 libras.
No registo da avaliação dos benefícios eclesiásticos pertencentes à comarca de Valença, efectuada em 1546, sendo arcebispo D. Manuel de Sousa, São Martinho de Soajo figura enquadrada no concelho de Soajo, tendo anexa a si a igreja de São Salvador da Gavieira. Em conjunto com esta rendia 60 mil réis.
Na cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo, refere-se que São Martinho de Soajo era do padroado real. Esteve anexa ao mosteiro beneditino de Ermelo, que veio a ser extinto no século XVI por iniciativa do então arcebispo de Braga, D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Nessa ocasião, foi fundada a Colegiada de Ponte de Lima, à qual o rei D. Sebastião aplicou a terça parte do rendimento da igreja de São Martinho do Soajo e da sua filial de São Salvador da Gavieira. O cura de São Salvador da Gavieira era da apresentação da igreja do Soajo».